segunda-feira, 9 de maio de 2011

FRANÇA BARRA TREM DE IMIGRANTES

Autoridades francesas bloquearam durante toda a tarde de hoje o tráfego ferroviário proveniente da Itália para evitar a chegada de um trem com cerca de 60 imigrantes tunisianos, que participavam de protesto pela liberdade de acesso à Europa.




Vinda da cidade de Ventimiglia -no norte italiano, a sete quilômetros da divisa com a França-, a manifestação, batizada de "Trem da Dignidade'', seguiria até Marselha, no sul da França.



Desde as revoltas na Tunísia que, em 14 de janeiro, derrubaram o ditador Zine El Abidine Ben Ali, a Itália tem recebido imigração maciça de tunisianos, que tentam escapar da instabilidade política em seu país de origem.



Calcula-se que cerca de 30 mil imigrantes da Tunísia já tenham sido redistribuídos por abrigos em diversas regiões da Itália. A grande maioria deles chegou de barco à ilha italiana de Lampedusa, mais próxima do norte da África do que da Sicília.



O Ministério do Interior francês alegou que os manifestantes vindos da Itália -ao todo, cerca de 300, somando os imigrantes- não tinham permissão para o ato.



Segundo a França, além disso, a decisão de reter o trem com os tunisianos provocou manifestações na região de Menton (cidade francesa na fronteira com a Itália), o que obrigou a suspender os trens temporariamente para "evitar incidentes''.



A decisão dos franceses foi criticada pelo ministro italiano das Relações Exteriores, Franco Frattini, que manifestou seu "firme protesto'' contra a interrupção do tráfego ferroviário, e pelo presidente do Conselho Europeu, o belga Herman Van Rompuy.



Van Rompuy afirmou que os franceses não devem "exagerar o perigo das migrações'' e instou o país ao cumprimento dos acordos europeus sobre o assunto.



"Nem Itália nem França fizeram nada de ilegal até agora, mas há o risco de não respeitar o espírito dos tratados sobre livre circulação de pessoas'', disse o político belga.



Divergência



O veto à manifestação evidencia as diferenças entre as políticas adotadas pelos italianos e por outros países-membros da União Europeia, como França e Alemanha, para lidar com o fluxo migratório dentro do continente.



A Itália tem fornecido aos tunisianos vistos temporários que dão acesso à área definida pelo acordo de Schengen. Originalmente assinado em 1985, o acordo permite a circulação dentro dos países europeus signatários sem a necessidade de apresentar passaporte nas fronteiras.



Franceses e alemães já se manifestaram contra essa política. Para a França, é necessário que os imigrantes também cumpram outros requisitos, como possuir passaporte e contar com recursos econômicos próprios.



Desde o início das revoltas no norte da África (Tunísia e, depois, Egito e Líbia) os italianos vêm pedindo ajuda à UE para lidar com o que, segundo Frattini, pode se tornar um "êxodo bíblico''.